segunda-feira, março 14, 2005

O Motel - Luis Fernando Verissimo

Mirtes não se agüentou e contou para a Lurdes:
- Viram teu marido entrando num motel. A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.
- Quando? Onde? Com quem? - Ontem. No Discretíssimu's. - Com quem? Com quem? - Isso eu não sei. - Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna? - Não sei, Lu.
- Carlos Alberto me paga. Ah, me paga... Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo e contou porquê.
- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você!
- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretíssimu's! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram. - Pois então?
- Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
- Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito, Lurdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção? - Vou!
Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa, com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio:
- Acabo de receber um telefonema - disse - Era o Dico. - O que ele queria? - Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar. - O quê? - Você foi vista saindo do motel Discretíssimu's ontem, com um homem.
- O homem era você!
- Eu sei, mas eu não fui identificado. - Você não disse que era você? - O quê? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
- E então?
- Desculpe, Lurdes, mas... - O quê??? - Vou ter que te dar uma surra...
(Luiz Fernando Veríssimo)

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